A cultura

Rapaziada o Baixada Brothers tá chegando no pedaço, vacilou compadre um abraço

A minha rima sem sair de cima deixa que eu mesmo faço, bumbo centrado vai marcando o compasso

Saca o contratempo, mais rápido do que o vento, o pan aberto, meu quinto elemento

A caixa abafada, descompassada, dá porrada; deixa a batida rebelde, meio quebrada

Eu abro o meu segredo, não tenho medo, não tenho sócio; a bateria é que é a alma do negócio

Tem que ser tocada, caprichada, pra manter o clima; é feita em cima, duelando com a rima

Já é maluco, camarada; é bateria e voz. É nós, na fita não estamos sós

Guitarra sampleada dos anos 80, não é pesada; mas o swing complementa

King Kombo, Black Rio, Tim Maia, James Brown; criatividade criminal, criminal

40º é o clima desse partideiro, valorizo a influência do Rio de Janeiro

Toco pandeiro, giro ele como fosse vinil, atire a primeira pedra quem nunca curtiu

Zeca Pagodinho, Jovelina, Bezerra, Sérgio Meriti, Kid Moringueira

Sai Como Pode onde eu passei minha infância, Bloco do China não me sai da lembrança

Era criança, por tanto não me leve a mal, se você é radical, monocultura é o escambau

Berimbau, tamborim; tem que ser tocado assim. Mais e mais recursos é o melhor pra mim

Vou beber em todos os potes, isso é que é legal, toda periferia um caldeirão cultural

Eu misturo samba, funk, heavy, hippie, rock, xote, xaxado, rap embolado, soul de quem quiser

Estou na batida da Jamaica, do cubano, angolano, africano, suburbano pro que der e vier

Venha que venha e traz aí, pandeiro e tamborim, faz barulho que eu vou mostrar tim-tim-por-tim-tim

Até o fim, vê se se liga choque: essa parafernália é apenas pra te dar um toque,

Não é de ibope, é de idéia violenta, o bongô, a viola, mera ferramenta

Complementa tudo que eu tenho pra mostrar, mas o essencial é o que eu quero falar

Pode tirar o instrumental que eu falo de novo, pro povo que só come ovo, e isso quando dá

Pra ajudar que eu montei essa harmonia, a melodia contracena com a barriga vazia

Periferia, lugar onde tudo acontece, barriga cresce antes da hora de engravidar

Não dá pra estudar, talvez seja por isso compadre que esses covardes conseguem nos envenenar

A droga é fácil, ao meu povo ela corrói; se um tapinha não dói, é o que falam por lá

Pra nos matar, escravizar a periferia, transformar a resistência numa utopia

Mas fique sabendo que isso é impossível meu compadre, o bem sempre prevalece sobre a maldade

Essa é minha verdade, do que depende minha existência, exigir cultura, inibir violência

A paciência foi vencida foi vencida pelo cansaço, se governo não liga, eu meto a mão e faço

Um abraço esse é o meu mundo real, toda periferia um caldeirão cultural

Sobre Cacau Amaral

Cineasta brasileiro. Direção em 5X Favela; 1 Ano e 1 Dia; Cineclube Mate com Angu; Sociedade Musical Lira de Ouro; Programa Espelho e Aglomerado. https://cacauamaral.com/
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