Nasci em 72

baseado em trecho do livro de Alessandro Buzzo

Os gritos do goleiro ditavam o ritmo do jogo / sempre era assim, um time contra o outro

De que lado eu vou ficar? Sempre foi no par ou ímpar / e era assim que os times variavam no dia a dia

Sempre que dava, jogava com o time inteiro / mas se faltasse gente, era golzinho, sem goleiro

De um lado os de camisa, do outro lado sem camisa / o chinelo velho substitui a baliza

Peguei a bola, passei pelo primeiro / o segundo zagueiro, um lençol no goleiro

Sou artilheiro, banheira que nada / de direita, de canhota. Topo qualquer parada

Entrei com bola e tudo meu cumpadi / na hora de meter gol, não tem essa de humildade

E na realidade vou te contar uma estória / tu só tá no jogo, porque é o dono da bola

Me lembro dessa época, vitalidade pra brincar / subir nas árvores, correr e zoar

E se deixar, não quero mais saber de nada / fico na rua até de noite, até de madrugada

A gente brincava de tudo que se possa imaginar / se tivesse pipa pra soltar, pião pra rodar

Bola de gude, pique esconde e pique salva / pique tá, pique ajuda, pique bandeira, pique lata

Pique parede, pique alto, pique cola / mas o que a gente gostava mesmo, era de jogar bola

À noite, a principal brincadeira / era pique esconde ou então pique bandeira

Segundo a regra, você só poderia se esconder / na própria rua, ou então não iria valer

Um contava até 20 e os outros corriam / um contava até 20 e os outros se escondiam

O que procurasse não podia vacilar / por que todos que ele encontrasse poderiam se salvar

A molecada se escondia em qualquer quintal / pulava muros, fazia um barulho infernal

Sempre pintava uma vizinha mal humorada / que vira e mexe furava a bola da molecada

A gente fazia de tudo pra provocar ela / gritava a noite em frente o casa dela

Soltava bomba no quintal e saia correndo / é claro que na madruga e se ela não estivesse vendo

Lembro como se fosse ontem, um belo dia / estava toda a turma na rua reunida

O muro azulejado e de repente BOOM / tijolo não sobrou nenhum

A dona saiu desesperada, irada / Gritando e acusando toda molecada

Época de bola de gude, epidemia / a quantidade de bolas que cada um tinha

Não dependia da quantidade de dinheiro / mas sim da habilidade dos parceiros

Tinha moleque que comprava 20, 30 bolas / e perdia tudo em menos de uma hora

Por outro lado tinha moleque que eu nunca vi comprando / e vivia com o pote cheio, as vezes até transbordando

Tampa de panela vira carro em alta velocidade / expressão de auto-criatividade

Crianças exercitando a mente fazendo com as próprias mãos / e o que era melhor, sem gastar nenhum tostão

Mas hoje é diferente: você não pode escolher / a TV escolhe pra você

Multidão que não pensa presa entre 4 paredes / como um cardume na rede

Pique ajuda é pra já, nunca deixo pra depois / Nasci em 72

Matava a escola, só pensava em bola, quero ver depois / Nasci em 72

1972 

Os gritos do goleiro ditavam o ritmo do jogo / sempre era assim, um time contra o outro

De que lado eu vou ficar? Sempre foi no par ou ímpar / e era assim que os times variavam no dia a dia

Sempre que dava, jogava com o time inteiro / mas se faltasse gente, era golzinho, sem goleiro

De um lado os de camisa, do outro lado sem camisa / o chinelo velho substitui a baliza

Peguei a bola, passei pelo primeiro / o segundo zagueiro, um lençol no goleiro

Sou artilheiro, banheira que nada / de direita, de canhota. Topo qualquer parada

Entrei com bola e tudo meu cumpadi / na hora de meter gol, não tem essa de humildade

E na realidade vou te contar uma estória / tu só tá no jogo, porque é o dono da bola

Me lembro dessa época, vitalidade pra brincar / subir nas árvores, correr e zoar

E se deixar, não quero mais saber de nada / fico na rua até de noite, até de madrugada

A gente brincava de tudo que se possa imaginar / se tivesse pipa pra soltar, pião pra rodar

Bola de gude, pique esconde e pique salva / pique tá, pique ajuda, pique bandeira, pique lata

Pique parede, pique alto, pique cola / mas o que a gente gostava mesmo, era de jogar bola

À noite, a principal brincadeira / era pique esconde ou então pique bandeira

Segundo a regra, você só poderia se esconder / na própria rua, ou então não iria valer

Um contava até 20 e os outros corriam / um contava até 20 e os outros se escondiam

 

O que procurasse não podia vacilar / por que todos que ele encontrasse poderiam se salvar

A molecada se escondia em qualquer quintal / pulava muros, fazia um barulho infernal

Sempre pintava uma vizinha mal humorada / que vira e mexe furava a bola da molecada

A gente fazia de tudo pra provocar ela / gritava a noite em frente o casa dela

Soltava bomba no quintal e saia correndo / é claro que na madruga e se ela não estivesse vendo

Lembro como se fosse ontem, um belo dia / estava toda a turma na rua reunida

O muro azulejado e de repente BOOM / tijolo não sobrou nenhum

A dona saiu desesperada, irada / Gritando e acusando toda molecada

Época de bola de gude, epidemia / a quantidade de bolas que cada um tinha

Não dependia da quantidade de dinheiro / mas sim da habilidade dos parceiros

Tinha moleque que comprava 20, 30 bolas / e perdia tudo em menos de uma hora

Por outro lado tinha moleque que eu nunca vi comprando / e vivia com o pote cheio, as vezes até transbordando

Tampa de panela vira carro em alta velocidade / expressão de auto-criatividade

Crianças exercitando a mente fazendo com as próprias mãos / e o que era melhor, sem gastar nenhum tostão

Mas hoje é diferente: você não pode escolher / a TV escolhe pra você

Multidão que não pensa presa entre 4 paredes / como um cardume na rede

 

Pique ajuda é pra já, nunca deixo pra depois / Nasci em 72

Matava a escola, só pensava em bola, quero ver depois / Nasci em 72

1972

 

Sobre Cacau Amaral

Cineasta brasileiro. Direção em 5X Favela; 1 Ano e 1 Dia; Cineclube Mate com Angu; Sociedade Musical Lira de Ouro; Programa Espelho e Aglomerado. https://cacauamaral.com/
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