Publicado em: extra.globo.com
Com suas particularidades, cineclubes ganham força entre os jovens, com sessões gratuitas e produção própria
Cineclube Mate com Angu é um dos mais antigos Cineclube Mate com Angu é um dos mais antigos Foto: Mazé Mixo / Extra
Marina Navarro Lins
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Na semana passada, as cerca de 20 salas de cinema da Baixada Fluminense estavam divididas entre os filmes “Homem de ferro 4” e “Somos tão jovens”. Para ver outra produção no circuito comercial era necessário sair da região. Mas, graças aos cineclubes, não foi preciso ir tão longe.
O movimento cineclubista ganhou força nos últimos dez anos como forma de resistência à falta de interesse do poder público na área cultural. Com a facilidade da tecnologia digital (basta um computador, um projetor e caixas de som), jovens se aventuraram no mundo audiovisual.
— Nossos objetivos são: fazer e exibir filmes, e, claro, facilitar nossas vidas amorosas — brincou Igor Barradas, do Mate com Angu, de Duque de Caxias.
Érica Nascimento idealizou o cineclube do Centro Cultural Donana Érica Nascimento idealizou o cineclube do Centro Cultural Donana Foto: Luiz Ackermann / Extra
O Donana está em cartaz novamente
Criado nos anos 80, o Centro Cultural Donana, em Belford Roxo, ficou fechado por 13 anos e reabriu, em 2009, com o Cine Rock — uma mistura de cinema, música e poesia.
O cineclube do Donana foi idealizado por Érica Nascimento e seu primo Diego Jovanholi. Em 2011, o projetor quebrou e as sessões só retornaram no último dia 5. O objetivo agora é fazer duas sessões por mês, com uma infantil.
O ‘tiozão’ Mate com Angu dá o exemplo
Em 2004, o cineclube Mate com Angu, de Duque de Caxias, teve que mudar às pressas o lugar de exibição do filme “Deus e o Diabo na Terra do Sol”. Correram para o Lira de Ouro, onde estão até hoje.
— No bar em frente, começou a tocar a música “We are the world”. Logo no meio do deserto do Glauber Rocha. Foi aí que nasceu nossa marca: sessões ruidosas, com e intervenções poéticas e musicais — contou Igor.
Criado em 2002, o Mate é um dos cineclubes mais antigos da Baixada e influenciou a maioria dos que vieram depois. Uma vez por mês, são feitas sessões temáticas com filmes independentes e festas.
Integrantes do cineclube Mate com Angu Integrantes do cineclube Mate com Angu Foto: Mazé Mixo / Extra
O Mate tem mais de 20 filmes próprios, feitos em colaboração por seus integrantes. Um deles, Cacau Amaral, dirigiu um dos quadros de “5x Favela”, de Cacá Diegues, e foi parar no festival de Cannes.
— Os cineclubes transformam os curiosos em cinéfilos — disse Márcio Bertoni.
Nas sessões, não há pipoca, mate ou angu, só muita cerveja. Da mistura de bebida e arte nasceram as histórias contadas no livro “O cerol fininho da Baixada”, de Heraldo HB, que deve ser lançado este ano.
O caçula Marapicu traz nova proposta
Indignados com a inexistência de salas de cinema no município, a companhia de teatro Queimados em Cena criou, em 2011, o cineclube Marapicu. Os filmes são exibidos toda a semana no espaço do grupo, que tem 45 assentos.
— Vem o pessoal do município e grupos escolares. Nosso objetivo agora é aumentar a divulgação — afirmou um dos organizadores, Leandro Santana.
Leandro Santanna é do cineclube Marapicu Leandro Santanna é do cineclube Marapicu Foto: Mazé Mixo / Extra
Ao contrário dos outros cineclubes, o Marapicu é voltado para filmes comerciais. Na primeira quinta-feira do mês, são exibidos filmes nacionais antigos. Na segunda, são longas internacionais alternativos. Na terceira, é a vez dos blockbusters. E, finalmente, na quarta, é a sessão Hollywood.
O Marapicu ganhou os equipamentos e os filmes de um edital do Ministério da Cultura. Eles torcem para que o acordo seja renovado em julho.
No Buraco, o público pode virar artista
Na onda do Mate com Angu, o cineclube Buraco do Getúlio, de Nova Iguaçu, integra cinema, poesia, música e o que mais puder ser chamado de arte. Tudo em suas sessões mensais.
— Exibimos curtas independentes e fazemos shows no Bar do Ananias, perto do local chamado Buraco do Getúlio. O público vê e descobre um espaço para mostrar sua arte — explicou Luana Pinheiro, de 26 anos.
Em abril, o Buraco fez uma homenagem a Pernambuco, com curtas temáticos e uma apresentação de Maracatu.
— Como fazemos o evento em um bar, sempre aparece um bêbado. Mas é engraçado, o dono do estabelecimento nos apoia. Ele só reclamou quando colocamos um videokê. As pessoas cantavam muito mal — riu Luana.
Diego Bion e Luana Pinheiro são do cineclube Buraco do Getúlio Diego Bion e Luana Pinheiro são do cineclube Buraco do Getúlio Foto: Mazé Mixo / Extra
Criado em 2006, o Buraco conseguiu o equipamento em um edital do Ministério da Cultura. Segundo seus organizadores, é o cineclube que mais exibe, hoje, no Rio de Janeiro.
— Como sempre tem sessão, o público criou uma identificação com o cineclube e também ajuda. Eles não se conformam quando não tem evento — disse Diego Bion, um dos seis integrantes do Buraco.
Além da sessão no Bar do Ananias, o cineclube exibe mensalmente longas brasileiros na Escola Livre de Cinema de Nova Iguaçu, e passa curtas em seu blog.
— Em abril, passamos o filme “Batalha do Passinho”, que ainda nem estreou. Depois, os meninos fizeram uma apresentação no terraço da escola — contou Luana.
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